Sou perfeita!
Sim, externamente, revestida da perfeição. Internamente, tão imperfeita. Uma mulher comum: duas pernas, dois braços, dois olhos... Comum, normal, perfeita... Um ser perfeito. Mas na vida sou A imperfeita. Uma mulher imperfeita que exercer seus múltiplos papéis simultaneamente, como mãe, profissional, esposa, aluna, professora etc. Eu trabalho, vou ao supermercado todos os dias, porque não sou tão organizada assim, decido o cardápio das refeições, levo os filhos ao colégio e os busco, almoço com eles, estudo com eles. Telefono para minha mãe de vez em quando, mando e-mails ao meu pai, abasteço o Facebook de curtição, procuro minhas amigas. Amo meu marido, sou sua maior incentivadora, apoiadora, amiga. Viajo, vou ao cinema, respondo a toneladas de e-mails, tenho minhas aulas de espanhol. Faço revisões no dentista, mamografia, academia três vezes na semana. Compro flores para casa, providencio os consertos domésticos ou então elejo alguém para fazê-lo, neste caso, meu marido. Participo de eventos e reuniões da minha igreja, dou aulas, tenho aulas e ainda faço as unhas toda semana. Esforço-me para ser uma esposa bem-humorada, alegre, cheirosa e pronta para meu marido quando ele chega em casa. Entre uma coisa e outra, leio alguns livros e tenho sempre tempo de visitar quem está precisando de um ombro amigo para conversar.
Sou, enfim, um ser disponível. Estou sempre pronta para aqueles que me solicitam ajuda, coisa que o mundo autossuficiente de hoje abomina fazer: pedir ajuda. Alguns dizem que é difícil viver, eu aprendi que o difícil mesmo é conviver. Para isso, fomos dotados de cinco sentidos fundamentais que utilizamos a toda hora, em todo lugar, em quaisquer circunstâncias, fazem parte de nós e nos orientam em tudo.
Somos semelhantes e ao mesmo tempo distintos. Alguns vivem sem um desses sentidos, talvez sejam os mais brilhantes, ousados e criativos, pois desenvolvem outras formas de fazer o que fazemos. Todos, na verdade, querem ter uma vida interessante, uma vida legal, cheia de coisas que valham a pena. Mas vida interessante não é ter a agenda lotada, nem ser sempre politicamente correta. Não é topar qualquer projeto por dinheiro nem atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
Vida interessante é ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar na sala com o filho mais velho junto com a mascote da família, a cadela Azla. Tempo para bisbilhotar os novos lançamentos na loja preferida. Tempo para sumir uns dias com o marido a fim de comemorar todas as bodas: de papel, de algodão, de cristal... Tempo para uma massagem. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para conhecer outras pessoas. Tempo para voltar a estudar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será publicado.
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